Zeina Latif, economista-chefe da XP, indica redução de gastos do Estado como objetivo primordial a seguido pelo próximo governo do país em painel do 8º Congresso de Sociedades de Advogados

A economista-chefe da corretora XP Investimentos, Zeina Latif, foi categórica em afirmar que sem realizar a Reforma da Previdência, o futuro presidente piorará vertiginosamente o cenário macroeconômico atual. "O Brasil está diante, talvez, de sua mais grave crise fiscal, e ela piorará sem uma reforma, pois o país envelhece e os gastos com a Previdência só crescem”, disse, em palestra no 8º Congresso Brasileiro de Sociedades de Advogados, no dia 10 agosto, na capital paulista.

Convidada para conduzir o painel "Corrupção, Insegurança Jurídica e Estado Patrimonialista / O Judiciário e a Economia”, a economista ressaltou que é preciso fazer uma agenda forte de redução de gastos. A presidente de mesa do encontro, Gisela da Silva Freire, vice-presidente do Sinsa, concordou.

Para Zeina, está claro que a sociedade não aceita mais aumentos de impostos, no entanto, se a Reforma for feita de forma equilibrada, é possível até fazer um ajuste para tornar mais justo o valor da atual carga tributária.

A solução, portanto, é a agenda de corte de gastos. "Quando se fala em cortar gastos é óbvio que a reação da sociedade e dos grupos organizados é grande. Mas é preciso combater urgentemente o Estado Patrimonialista”, enfatizou.

Mesmo ciente de que combater esse patrimonialismo não é uma agenda fácil para a nação, a economista afirmou que é passada a hora de discutir e avançar sobre Políticas Públicas em várias áreas.

Corrupção versus Estado ‘gigantesco’

Outra questão a ser avaliada é a da corrupção. "Há um avanço institucional no país que tem que ser reconhecido, mas só punir a corrupção não é a saída. Precisamos de fortalecimento institucional e um Estado mais eficiente, mais transparente e enxuto. É o Estado ‘gigantesco’ que interfere na economia. Muitas vezes de forma autoritária, acaba por gerar uma série de distorções no sistema econômico, sendo um estímulo a mais para a corrupção”, afirmou.

Os países que tiverem estrutura estatal mais pesada e com mais intervenção, naturalmente terão também maior corrupção. "Infelizmente, tivemos um retrocesso nos últimos anos”.

Zeina avaliou, entretanto, que nada é ato isolado. "A corrupção traz custos enormes, mas é importante compreender que ela não é o nosso maior problema, pois não é a causa principal do mau funcionamento da economia, da nossa crise. Na verdade, a gente tem um Estado que funciona mal e junto com isso vem a corrupção”.

Transparência

Como caminho de fortalecimento, ‘transparência’ é a palavra-chave. "E aqui temos avanço, pois todos precisamos saber para onde vai o dinheiro, quem se beneficia das Políticas Públicas e das renúncias, o que deu certo ou não. A transparência é a base até para que os pesos e contrapesos do país funcione. Porque se a imprensa, por exemplo, não tem acesso à informação e dados, como é que a sociedade vai saber?”, questionou ao garantir que "isso é o básico”.

Outro destaque foi para o fortalecimento de outras instituições, a exemplo do papel dos Poderes. "Tem muito trabalho para ser feito e é preciso chamar atenção para a insegurança jurídica. Há um intervencionismo do sistema judiciário que precisa ser ajustado”, disse Zeina. "Isso acaba gerando tanto impacto na economia quanto no funcionamento dessas válvulas, desses tais pesos e contrapesos, que são necessários para bem estabelecer uma democracia”, acrescentou.

Eleição deste ano

No momento de transição política, com eleições à vista, tudo pode ou não ficar mais delicado. "Tanto a eleição quanto o próximo ano propriamente dito são mais um teste para o grau de amadurecimento do Brasil”.

A economista também ressaltou que apesar do tumultuado processo de impeachment sofrido pela ex-presidente Dilma Rousseff, o país trabalha para se reerguer. "Do ponto de vista legal e jurídico, não ficou muito claro aquele processo, mas não dá para dizer que não foi democrático: muitas pessoas foram às ruas e tínhamos uma grave crise instaurada”, afirmou ao ponderar que, de certa forma, preferiria que a presidente tivesse conseguido fazer a reorientação da política econômica.

"Sabemos, no entanto, que não conseguiu e o país deu ‘cartão vermelho’ a ela. Mas é simbólico, pois mostra que a sociedade não aceita o colapso da economia e nem a volta da inflação”.

Reforma

Para Zeina, resta saber, agora, o quanto a sociedade aceitará a Reforma da Previdência. "Até porque não se pode exigir da classe política mais do que ela pode agregar. Se uma Reforma segue para o Congresso e ninguém ajuda, o governo sozinho não opera devidamente e só evidencia o país que então temos e acabamos por merecer”.

Segundo a economista, esse papel é essencialmente da elite e das lideranças do setor privado. "Não é a camada pobre da população que terá capacidade para contribuir no avanço das agendas”, garantiu. Há, portanto, um teste para cada segmento da sociedade, mesmo que impacte no seu próprio setor. "Isso é pensar no bem comum, numa agenda republicana”.

Eis o grande teste. "O Brasil está mais maduro institucionalmente e a sociedade, mais exigente”. Além disso, parece estar claro que o dinheiro acabou. "E ironicamente até isso tem o lado bom, pois força o país a rever todas essas políticas”, analisou.

Zeina afirmou que a Reforma há de acontecer. "Essa é uma agenda da política e a equipe do próximo presidente terá que negociar muito, enfrentar grupos de pressão e saber dialogar com o Congresso, com o Judiciário e com a sociedade. E isso exige experiência e capacidade política. E não dá para saber se o próximo governo terá todos esses atributos. Mas é preciso torcer e acreditar que sim”, finalizou.


 

Produção e edição: Moraes Mahlmeister Comunicação

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