Juíza Mylene P. Ramos Seidl e professora Patrícia Tuma M. Bertolin apontam caminhos para inclusão racial e de gênero no 8º Congresso de Sociedades de Advogados

"Discutir Diversidade é importante porque é assim que se promove o enriquecimento cultural no dia a dia das pessoas, das empresas e nas esferas governamentais”, afirmou Mylene Pereira Ramos Seidl, juíza da 20ª Vara do Trabalho da Zona Sul de São Paulo – TRT/ 2ª Região.

Ela e Patrícia Tuma Martins Bertolin, professora permanente do programa de pós-graduação em Direito Político e Econômico da Universidade Presbiteriana Mackenzie comandaram o painel "Diversidade e a igualdade de oportunidades no mercado de trabalho / Desafios para Promoção da Diversidade Racial nas Carreiras Jurídicas” no 8º Congresso Brasileiro de Sociedades de Advogados, em 10 agosto, em São Paulo (SP).

Inclusão é multidisciplinar

Para Mylene, a importância da inclusão de pessoas em todas as camadas da sociedade significa compreender a valorização das diferenças e do respeito. "Quando pensamos em diversidade racial, por exemplo, é preciso levar em conta que a importância é a mesma que devemos dar ao debate sobre gênero e identidade sexual porque precisamos viver num mundo em que os espaços possam ser frequentados por todas as pessoas igualmente. Só assim, aliás, teremos uma sociedade melhor”.

A juíza enfatizou também que essas questões estão evoluindo rapidamente em termos de debate. No entanto, é necessário ver como o mercado continuará a reagir. "Nenhuma mudança é rápida porque exige ressignificar cultura, postura e estratégia. Então, esperamos que haja uma evolução também por meio dos números”, ponderou.

Mylene afirmou que, de acordo com o último Censo, de 2014, o Brasil tem 54% da população declarada como negra ou parda, e na esfera jurídica, a representação de negros é mínima. "Em 2014, o Censo revelou que na magistratura 14% dos juristas são negros, mas há tribunais que essa proporção é muito menor: o de São Paulo soma 90 desembargadores e apenas uma desembargadora é negra”, ressaltou.

Diversidade em favor da inovação

As lutas são mesmo várias. Para Patrícia, o papel das mulheres no mercado de trabalho ainda precisa de avanços. "Enquanto a sociedade não compreender que é pela diversidade que criamos um ambiente em que funcionários são verdadeiramente encorajados a serem o melhor que podem ser independentemente do sexo, idade, deficiência ou nacionalidade, fica difícil ter crescimento significativo na abordagem da questão”, disse.

De acordo com estudos feitos pela Forbes, em 2015, com 321 grandes empresas globais, 85% delas concordaram que a diversidade é crucial para promover inovação no trabalho, já que engloba profissionais de diferentes perfis e com backgrounds distintos. Ou seja, empresas e setores que investem na inclusão de pessoas de diferentes gêneros, raças, etnias e orientações sexuais tendem a ser mais inovadoras.

Igualdade no trabalho depende de revisão de papéis sociais

Mas, na prática, há setores que não pensam assim. "No meio jurídico, muitas vezes, chega a ser cruel a maneira como a carreira de uma mulher estagna porque, na maioria das vezes, ela precisa dividir seu tempo de trabalho com os afazeres domésticos, o que inclui, em geral, também o cuidado e a atenção aos filhos – já que raramente o homem verdadeiramente divide esse papel na casa”, ressaltou a professora.

Tendo como base as décadas de 50 a 90, é claro que o mercado como um todo revela avanços, mas o papel da mulher na sociedade ainda é desproporcional e desequilibrado. "Na área jurídica, quando a questão é ascensão, para a mulher existe quase sempre um ‘teto de vidro’”, enfatizou.

Patrícia explicou que um telhado de vidro permite às advogadas bem-sucedidas mirarem a cúpula dos grandes escritórios de advocacia, mas as impede de alcançá-la. "As poucas mulheres que se tornam sócias dos grandes escritórios são tidas como excepcionais, o que reforça a tese de que as mulheres comuns são inferiores aos homens”.

Mulheres na advocacia

Segundo a apuração feita por Patrícia Bertolin, e que está em seu livro "Mulheres na advocacia: padrões masculinos de carreira ou teto de vidro”, os processos de seleção são muitas vezes pretensamente neutros. "Na maioria, como os donos são homens, a tendência é a escolha dos candidatos que com eles se assemelham, ainda que a produtividade feminina seja tão grande ou maior do que a masculina”.

Na opinião da professora, apesar de alguns escritórios adotarem programas de inclusão para as mulheres, muitos ainda fazem mais marketing e, assim, há pouca efetividade na ação. "A solução está no melhor compartilhamento das tarefas na esfera doméstica, já que ‘a grande questão é a maternidade’”, sugeriu.

Para Geraldo Baraldi Júnior, delegado sindical do Sinsa, que intermediou a discussão de Mylene e Patrícia, o diálogo e o recorrente debate são vitais para a promoção da real diversidade.

"Só poderemos mudar efetivamente quando entendermos que, ao compartilharmos visões e ideias diferentes, qualquer assunto ou projeto se tornará rico e amplo. Afinal, o processo de encontrar soluções deriva, na maior parte das vezes, do diferente”, afirmou. A juíza Mylene concordou, reforçando que "muitas soluções não seriam possíveis se todos tivessem vivências parecidas”.

 

Produção e edição: Moraes Mahlmeister Comunicação

Compartilhe essa página

Deixe seu comentário